O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve realizar viagens pelo continente africano ainda no primeiro semestre de 2023, segundo apurou a CNN com sua assessoria. O mandatário planeja visitar África do Sul, Angola e Moçambique em seu “tour”, que pode acontecer já no mês de maio.
A viagem marca uma tentativa de reaproximar o Brasil do continente africano. Durante os oito anos em que esteve à frente do país, Lula teve como uma das prioridades de sua política externa a aproximação com o “Sul Global” — o que inclui a África.
O professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) Amâncio Jorge de Oliveira explica que as viagens são “parte importante do relacionamento bilateral”. Ele destaca, porém, que Lula deve aprofundar as relações com o continente em diferentes frentes.
Leia mais
Por 2024, PL planeja agenda de viagem para Bolsonaro, Michelle e Braga Netto
Unesco convida Lula, Barroso e Felipe Neto para fórum que vai propor regulamentação das redes sociais
Lula oficializa jornalista Hélio Doyle no comando da EBC
“Não há novidades neste movimento, observando os governos anteriores de Lula. Ele está basicamente retomando sua política externa. E isso não deve ocorrer só do ponto de vista das visitas ao continente, mas também com relações comerciais”, explica.
Lula retoma aproximação “Sul-Sul”
Em suas gestões, Lula fez dos países africanos destinos recorrentes. O petista realizou 33 viagens à nações do continente. Além disso, de 2003 a 2010, o presidente inaugurou 18 novas embaixadas na região.
Neste período, o comércio bilateral entre o Brasil e a África saltou de US$ 5 bilhões a US$ 20 bilhões, segundo o Centro Internacional de Comércio (ITC, na sigla em inglês). As exportações brasileiras para o continente passaram de US$ 2,9 bilhões para US$ 9,2 bilhões; as importações, de US$ 3,2 bilhões para US$ 11,2 bilhões.
A política de aproximação “Sul-Sul” foi rompida por gestões recentes do governo federal, segundo o professor da USP. O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não visitou a região durante seus quatro anos no poder, por exemplo.
“Houve um distanciamento [em relação à África] tanto com [Michel] Temer quanto com Bolsonaro, por questões distintas. Temer operou uma crise doméstica, sem muito espaço para pensar a política internacional. Já com Bolsonaro havia uma questão ideológica”, aponta.
Valor estratégico e investimentos na África
Outro aspecto marcante da política externa de Lula em relação à África é o direcionamento de investimentos ao continente, segundo Amâncio Jorge de Oliveira.
Em 2010, 60% dos projetos de desenvolvimento internacional do Brasil gerenciados pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) eram destinados a países africanos. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
O professor da USP explica que estrategicamente o movimento pode ser vantajoso para o Brasil, mas destaca que “este tipo de investimento precisa ser criterioso”.
“Há de se fazer um balanço de custo benefício. Esse investimento precisa dar um retorno, não podemos pensar nisso sem contrapartidas. Não podemos fazer [investimentos] só por questão ideológica ou outro tipo de afinidade”, conclui.
Este conteúdo foi originalmente publicado em Lula pode ir à África ainda no 1º semestre e busca repetir aproximação de mandatos anteriores no site CNN Brasil.