Por Rodrigo Dubois – CEO da Agência Mantra
Como profissional da área, tenho observado que a Inteligência Artificial (IA) deixou de ser uma promessa futurista para se tornar uma força motriz no presente da comunicação de marcas.
Diariamente, eu e você somos impactados por estratégias de comunicação hiper personalizadas, interações automatizadas e conteúdos gerados por IA que moldam nossas percepções e decisões de consumo.
Essa revolução, embora traga eficiência e escala sem precedentes, opera em grande parte sob um véu de invisibilidade regulatória, levantando questões cruciais sobre ética, transparência e o impacto direto em clientes e consumidores.
Neste artigo provocativo, busco lançar luz sobre essa lacuna, questionando os limites dessa autonomia tecnológica e a urgência de um arcabouço regulatório que garanta a integridade e a confiança na era da comunicação algorítmica. Minha intenção é provocar o debate sobre a regulamentação da IA na comunicação e seus impactos no consumidor.
A ascensão da IA na comunicação: benefícios e riscos ocultos
Tenho visto a IA redefinir a comunicação de marcas de maneira profunda e multifacetada. Suas aplicações vão desde a personalização de mensagens e conteúdos, adaptados aos interesses individuais dos consumidores, até a automação de tarefas repetitivas, como o envio de e-mails e o agendamento de publicações em redes sociais. Chatbots e assistentes virtuais oferecem atendimento 24/7, e sistemas de recomendação baseados em IA sugerem produtos com base no histórico de compras e preferências. A capacidade de tradução instantânea também facilita a expansão global das marcas.
No entanto, por trás da eficiência e da conveniência, percebo que espreitam riscos significativos. A dependência excessiva da tecnologia sem supervisão humana pode comprometer a autenticidade e a credibilidade da marca, além de criar vulnerabilidades em caso de falhas tecnológicas.
A IA, ao otimizar o tempo e os recursos, também ajusta as abordagens de comunicação ao perfil e às necessidades dos consumidores em tempo real, o que, sem a devida regulamentação, pode se tornar uma ferramenta de manipulação sutil e poderosa. É por isso que a ética na IA e a transparência na comunicação são tão importantes.
O impacto direto no consumidor: personalização ou manipulação?
Para mim, o impacto da IA no comportamento do consumidor é inegável. A hiper personalização, impulsionada pela análise de dados e social listening, cria experiências de consumo altamente relevantes e engajadoras. Contudo, essa mesma capacidade levanta sérias preocupações sobre privacidade e o potencial de manipulação. Quando a IA compreende tão profundamente nossos desejos e necessidades, a linha entre personalização e persuasão excessiva torna-se tênue.
Interações automatizadas, como as realizadas por chatbots, embora eficientes, podem falhar em nuances humanas, levando a respostas inadequadas ou à percepção de uma comunicação impessoal.
A otimização de campanhas, que utiliza a IA para identificar padrões e tendências, pode, sem supervisão, resultar em vieses algorítmicos e em comunicações que exploram vulnerabilidades psicológicas dos consumidores.
A própria criação de conteúdo por IA – textos, imagens e vídeos – levanta a questão da autoria e da veracidade, especialmente na ausência de diretrizes claras sobre o conteúdo gerado por máquinas. A confiança do consumidor e a responsabilidade da IA são temas que me preocupam profundamente.
Exemplos que ilustram a urgência
Para que a discussão não permaneça no campo abstrato, vejamos alguns exemplos práticos que demonstram a necessidade de um debate aprofundado e de uma regulamentação clara:
Precificação Dinâmica: Grandes varejistas online utilizam algoritmos de IA para ajustar os preços de produtos em tempo real, com base na demanda, no histórico de navegação do usuário e até mesmo na sua localização. Sem transparência, essa prática pode levar à discriminação de preços, onde dois consumidores pagam valores diferentes pelo mesmo produto, sem uma justificativa clara.
Chatbots e Influenciadores Virtuais: Marcas estão utilizando chatbots cada vez mais sofisticados e influenciadores gerados por IA que interagem com os consumidores de forma quase indistinguível de um ser humano. A falta de identificação clara de que se trata de uma IA pode enganar os consumidores, levando-os a acreditar que estão interagindo com uma pessoa real e, assim, influenciando suas decisões de compra de maneira desleal.
Conteúdo Gerado por IA: A capacidade de gerar imagens, textos e vídeos realistas por meio da IA abre um precedente perigoso para a criação de campanhas publicitárias que promovem padrões de beleza inatingíveis ou que distorcem a realidade. A ausência de um selo ou de uma indicação de que o conteúdo foi gerado por IA pode levar à desinformação e a impactos negativos na saúde mental dos consumidores.
Publicidade Direcionada e Microtargeting: A IA permite um nível de detalhamento no direcionamento de anúncios que pode ser usado para explorar as vulnerabilidades de indivíduos. Por exemplo, uma pessoa que demonstra sinais de compulsão por compras pode ser bombardeada com anúncios de produtos que incentivam esse comportamento, sem qualquer tipo de controle ou proteção.
O vácuo regulatório: um campo minado para marcas e consumidores
Na minha análise, a ausência de uma regulamentação específica para o uso da IA na comunicação de marcas é um dos maiores desafios da atualidade. No Brasil, embora haja discussões e projetos de lei em andamento, como o aprovado pelo Senado que segue para a Câmara dos Deputados, a implementação prática ainda enfrenta obstáculos. A classificação de risco dos sistemas de IA, a proteção de direitos autorais de conteúdo gerado por máquinas, a garantia de conformidade sem comprometer a eficiência e a privacidade dos dados são apenas alguns dos pontos críticos.
Percebo que a falta de clareza regulatória cria um campo minado onde vieses algorítmicos podem ser perpetuados, a transparência é comprometida e a manipulação se torna uma possibilidade real. Relatórios da UNESCO e discussões globais apontam para a urgência de um arcabouço legal que equilibre inovação com proteção, garantindo que a IA seja usada de forma ética e responsável. Sem isso, as marcas correm o risco de danos à reputação, e os consumidores, de terem seus direitos e sua privacidade violados. A legislação de IA e a proteção de dados são cruciais para o futuro da comunicação digital.
É hora de agir
A revolução da IA na comunicação de marcas é um fato consumado. Seus benefícios são inegáveis, mas, em minha opinião, seus riscos, especialmente na ausência de regulamentação, são alarmantes. É imperativo que nós, como governos, empresas e sociedade civil, colaboremos para criar diretrizes claras e eficazes que garantam a ética, a transparência e a responsabilidade no uso da IA. A supervisão humana é indispensável para mitigar os vieses, assegurar a autenticidade e proteger os consumidores de estratégias comunicacionais que, embora eficientes, podem ser manipuladoras ou prejudiciais.
Não podemos permitir que a busca por eficiência e personalização a qualquer custo comprometa a confiança e a integridade da comunicação. O futuro da relação entre marcas e consumidores na era da IA depende de um compromisso urgente com a regulamentação e a ética. É hora de agirmos, antes que os limites invisíveis da IA se tornem barreiras intransponíveis para a confiança e a verdade. A regulamentação da inteligência artificial é um passo fundamental para um marketing ético e uma comunicação responsável.
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Rodrigo Dubois é CEO da Agência Mantra, onde lidera projetos que unem criatividade e estratégia para impulsionar marcas no ambiente digital. Com mais de uma década de experiência em marketing e desenvolvimento de negócios, ajuda empresas a alcançarem seus objetivos através de soluções personalizadas e inovadoras.
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